Mensagem de Fernando Swiech

12/03/2010 at 19:52 (Histórico do movimento Conserva o CONSERVAtório)

Hamburgo, 02 / 03 / 2010.

 
Prezada Senhora Elizabeth Schmidt,

Estive de férias no Brasil e visitei a senhora na Vila Hilda em 2008. Sou o ponta-grossense que trabalha em Hamburgo como Dirigente e Organista.

Parece que o ano letivo começa bastante movimentado ai em Ponta Grossa. Recebi alguns e-mails de pessoas que me conhecem ainda do tempo que estudei na Escola de Música.
Por outro motivo eu queria entrar em contato e aproveito a oportunidade para escrever essa carta.

Como a impressão que tive é que a senhora é uma pessoa aberta e comunicativa tomo a liberdade de tematizar o conservatório.

Essa é a história de três crianças. Ericka, Paulinho e Fernando. Os dois primeiros são irmãos. Onze e nove anos de idade. Pais divorciados com poucos recursos financeiros. Os avós aposentados ajudam na educação das crianças como podem. Eles estudam em escola pública e o ponto alto da semana são as aulas de música no conservatório onde eles têm a oportunidade de ter aulas de piano e musicalização infantil que é pedra fundamental da educação musical.

Fernando vem de uma família de classe média. Tinha aulas particulares num conservatório particular até o dia em que o pai tem um problema sério de saúde. O tratamento não foi coberto nem pelo sistema de saúde público nem pelo seguro. Para conseguir pagar o atendimento médico o pai dessa família vende os dois carros e o sítio. Seguem-se anos de extremas dificuldades financeiras.

Através de uma colega de trabalho da mãe de Fernando, eles conhecem o conservatório municipal que se tornou a escola que não somente formou o menino musicalmente, mas foi também foi o apoio social nas horas difíceis que a família passou. Hoje esse menino faz uma carreira internacional tocando e regendo por toda a Europa e América do Sul. Em 2011 ele tem a sua estréia nos Estados Unidos. 

Ericka e Paulinho são meus sobrinhos. Fernando sou eu e hoje tenho trinta e três anos. A minha carreira agradeço a duas instituições. Ao governo federal brasileiro que financiou os meus estudos na Europa e o município de Ponta Grossa que me aceitou como aluno isentando completamente as taxas, por falta de recursos da minha família naquela época. Sem o conservatório eu não teria chegado onde cheguei hoje.

Música não é somente executar notas certas no momento certo. Música é um fenômeno social. Sem essa      função ela não tem importância alguma. Sem o trabalho conservatório  não sei qual teria sido o meu   destino e o de tantas outras pessoas em Ponta Grossa.

Nesse campo de trabalho os professores da escola de música têm experiência  quase que insubstituível, isso se comprova cada vez que um aluno entra com sucesso num curso superior de música. 

Mais uma vez quero agradecer o trabalho que a Prefeitura de Ponta Grossa fez pela minha família e por mim nesses anos todos através do conservatório. Não sei exatamente o que está acontecendo nesse processo de reestruturação,  pois ninguém conseguiu enviar uma cópia dos novos planos de educação musical. Seguramente, sempre há algo que se pode melhorar, embora os planos do conservatório que ajudei a elaborar são muito bons. Os amigos que entraram em contato tem um certo receio do teste seletivo e da idoneidade em que o mesmo correrá, o que acredito ser um impulso humano muito natural sempre que se é confrontado com situações novas.

Mas tenho certeza que a Senhora com a sua experiência no comando da Secretaria de Cultura achará uma forma de acalmar os partidos envolvidos nesse conflito guiando o conservatório para um futuro produtivo sem causar perdas aos desfavorecidos socialmente. O dinheiro que é investido nessas pessoas é muito bem gasto com algo que tem um valor moral muito grande. A continuidade desse trabalho é a minha expectativa, de Ericka e Paulinho também. 

Cidades como Curitiba no Brasil ou Hamburgo na Alemanha, têm o mesmo sistema como o de Ponta Grossa. Ambas as cidades mantêm uma escola de música muito semelhantes  que preparam o futuro músico para poder ingressar numa escola superior.

De lá se sai com um diploma na mão. Esse diploma que se consegue somente em universidades ou nas escolas superiores é o que o mercado de trabalho exige hoje em dia em qualquer parte do mundo.

O motivo pelo qual eu já há algum tempo queria entrar em contato é para convidá-la para o meu concerto a frente do Coral da Camerata Antiqua de Curitiba nos dias 30 de abril e 1° de maio. Esse coral é um dos coros profissionais mais reconhecidos no Brasil. Terei o privilegio de trabalhar com eles durante uma semana e fazer esse concerto. O repertório que escolhi é de música nórdica com obras de Grieg, Distler e compositores ainda vivos como Pärt e Kverno. Eu ficaria muito honrado com a sua presença. Caso haja interesse da sua parte posso repassar mais detalhes como local e o programa comentado que já entreguei para a revisão. Depois sigo ao Rio de Janeiro para um concerto de órgão organizado pelo Instituto de Arte Organístca. No programa de 2010 sou o único brasileiro convidado. Caso a senhora esteja no Rio, o concerto será no dia 6 de maio.

A senhora continua bem vinda a Hamburgo, convite que fiz em 2008 e faço novamente. Regularmente leio a versão on-line do Jornal da Manhã e soube da sua viagem a Europa e naquele momento lamentei pelo fato de não poder recebê-la aqui. Mas Paris e Hamburgo são separadas por mais de doze horas de viagem de trem o que dificulta um pouco. Quem sabe num futuro próximo.

Cordialmente e à sua disposição.

Fernando Swiech

Maestro e Organista

Doutorando em Musicologia pela Escola Superior de Música de Hamburgo

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