Mensagem de Camila M. Celinski

12/03/2010 at 19:33 (Histórico do movimento Conserva o CONSERVAtório)

Eu tinha apenas nove anos quando comecei a freqüentar o Conservatório de Música Maestro Paulino Martins Alves. Nessa época, a escola de música funcionava em outra sede, próxima da catedral. O edifício que a abrigava era muito antigo e nem um pouco apropriado para as atividades ali desenvolvidas. No entanto, isso não importava muito. Nós, alunos, amávamos aquele ambiente repleto de som, os rangidos dos pisos velhos, algumas aulas no porão e no jardim. O Conservatório Dramático Musical Maestro Paulino Martins Alves foi fundado em 1972. Hoje possui 540 alunos e 28 professores. A procura por vagas aumenta a cada ano, bem como o público dos concertos.

Um conservatório pressupõe som. Grande parte da emoção ao entrar em uma escola de música está em ouvir os inúmeros instrumentos que soam pelos corredores. Em uma sala se ouve o pianista, repetindo a escala. Em outra, o violoncelista e seu som profundo. Mais adiante, a flauta se destaca. Enfim, se ouve o cantor. A sensação de entrar em uma escola de música silenciosa é bastante desoladora: parece que se entrou no lugar errado. E eu sempre sentia uma sensação esquisita quando visitava o conservatório durante as férias. Aquele silêncio me deixava inquieta.

Durante essa semana, essas sensações inquietantes frente ao silêncio ficam voltando incessantemente. É porque soube que o Conservatório Dramático Musical será fechado para uma reestruturação. Fechado! Simplesmente não consigo imaginar um conservatório tão silencioso quando tantos músicos querem tocar. No entanto, o que me inquieta ainda mais é saber que a reestruturação proposta não prevê a existência dos cursos de musicalização, que são aqueles que permitem o acesso à educação musical para quem não possui conhecimento prévio de teoria musical ou o domínio de um instrumento.

A musicalização é extremamente importante. Já na Grécia antiga, a música fazia parte da educação da infância e da juventude. Acreditava-se que ela colaborava na formação do caráter e da cidadania, por possuir a capacidade de imprimir ritmo, harmonia e temperança à vida. Hoje, reconhece-se que o contato com a música amplia a percepção e sensibilização diante do mundo, intensificando as experiências de vida.

Não se espera que todos os estudantes de música sejam instrumentistas ou compositores consagrados, mas que pelo desenvolvimento de sua faculdade estética, as suas emoções sejam trabalhadas desinteressadamente para a satisfação do coração. A musicalização pode ser um meio para inserção da arte na vida do ser humano, dando-lhe oportunidade de alcançar novas dimensões e relações consigo mesmo e com o mundo.

Fui aluna do conservatório durante dez anos de minha vida e toda essa vivência me marcou muito. Embora não tenha seguido a música como carreira profissional, o que fica é: não importa o que você faz, mas quanto amor você coloca naquilo que faz. Não é a toa que os cursos superiores de música estão entre aqueles que possuem menor índice de desistência. Isso ocorre porque são necessários anos de dedicação para alcançar certos resultados – em outras palavras, muita disciplina, paciência e determinação. Admiro imensamente todos os professores e amigos que encontrei no conservatório de música, pelo exemplo de dedicação apaixonada à música e por me mostrarem ser impossível viver sem fazer aquilo que se ama.

Camila Montes Celinski

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